Publicado em Deixe um comentário

Algumas Palavras sobre o Amor

Textos / Crônicas

Angela Leite de Souza

É difícil dizer, a respeito do amor, alguma coisa que ainda não tenha sido dita ou escrita. E entre todos os textos que conheço, talvez nenhum se compara ao da famosa epístola de São Paulo aos Coríntios. Com muita inspiração e, principalmente, iluminação, o apóstolo reuniu em poucos versículos as mais belas e precisas definições desse sentimento tão deturpado pelos homens.

Vinte séculos se passaram desde então, uma década do novo milênio está se encerrando, e ainda não compreendemos nem praticamos esse amor espiritual pleno sintetizado pelo antigo inimigo de Jesus. Há quem confunda amor com paixão – e esta, sim, é cega -; há quem tome ciúmes por cuidado; para outros, amor é sexo; ou posse; ou simples tolerância. Sem falar naqueles que amam desmedidamente a si mesmos e que, pensando em proteger-se das maldades alheias, reais ou imaginárias, tratam de cavar um fosso ao seu redor, certos de que estão cuidando da salvação de suas almas. A auto-estima virou palavra de ordem, em detrimento da estima pelo “outro” e da consideração por seus iguais direitos. Em suma, o termo amor banalizou-se tanto quanto o sentimento que deveria significar.

É claro que, como sempre, existem pessoas abnegadas, solidárias, altruístas, que oferecem seu amor desinteressada e discretamente (não se ensoberbecem). Ainda são muitos os que se imolam pelos fracos e oprimidos (não se alegram com a injustiça). E numerosos são aqueles capazes de perdoar e de suportar, sem se sentirem por isso diminuídos. Enfim, grande ainda é o contingente de indivíduos que vivem em seu dia a dia as recomendações daquele que melhor encarnou o Amor, com maiúscula, no plano humano.

Infelizmente, porém, a maioria anda esquecida de Suas palavras e de Seus exemplos. Ou prefere usá-los com fim bem diverso. Seu nome é invocado nas situações mais vulgares, sem a verdadeira intenção de conectar-se com o divino. E a caridade, o mais perfeito sinônimo de amor, é algo que se faz para ter desconto no imposto de renda, é a migalha que se oferece, com sentimento de culpa, do muito que sobrou nas mesas fartas. Não se reconhece mais o semelhante em alguém que nada nos deu, a não ser a bofetada de sua miséria.

Ainda assim, acredito no ser humano. Não por causa da existência dos melhores, mas pelo poder que estes possuem de resgatar os piores. Em outras palavras: pela capacidade infinita do amor de renovar-se e de redimir. Como afirmavam, milênios atrás, aqueles que prepararam o homem Jesus para a missão do Cristo – os essênios – “o amor vence todos os abismos”.

Crônica publicada no jornal
O Trem Itabirano – 20/12/2016

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *