Publicado em Deixe um comentário

Do lado de cá dessas rosas

Textos / Poemas

Angela Leite de Souza

Nem percebi quando me cobriram
com esta colcha rosa de rosas
amorosamente.
Dormia meu novo sono
sem tranquilizantes, sem relógios:
estou sereno e não há pressa em acordar.
Ser apenas, estar.
Não me roem mais tristezas, nem desejos.
Lateja, leve leve, uma saudade.
Meu corpo vai não sendo, sou feliz.
Livre do dever de viver e de burlar
a morte
compreendo: um é o avesso da outra,
sua sombra, seu reflexo, viceversamente.

Indivisíveis e incomunicáveis,
a morte, onipresente na vida,
e a vida, na morte, transparente.
Quem me garante não ser a vida esta
que um lençol de flores aquece e acalenta e basta?
Não será muito mais morte
a lágrima caída em minha testa
ou a mão que em vão me roça
à procura de respostas?

Poema publicado no Caderno Cultura do
Jornal Estado de São Paulo – 6/10/85

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *